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terça-feira, 19 de abril de 2011

Frida Kahlo – Análise de Imagem



Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon, conhecida como Frida Kahlo, nasceu em 6 de julho de 1907, em Coyoacan, no México, para uma vida cheia de percalços. Frida era uma revolucionária. Ao contrário da elite de sua época, ela gostava de tudo o que era verdadeiramente mexicano: jóias e roupas das índias, objetos de devoção a santos populares, mercados de rua e comidas cheias de pimenta. Fiel ao seu país, a pintora gostava de declarar-se filha da Revolução Mexicana ao dizer que havia nascido em 1910.
Militante comunista e agitadora cultural, Frida usou tintas fortes para estampar em suas telas, na maioria auto-retratos, uma vida tumultuada por dores físicas e dramas emocionais. Aos seis anos contraiu poliomielite (paralisia infantil) e permaneceu um longo tempo de cama. Recuperou-se, mas sua perna direita ficou afetada. Teve de conviver com um pé atrofiado e uma perna mais fina que a outra.
Vítima de um terrível acidente que a prendeu sob um colete de gesso por toda a vida, a dor de Frida foi retratada em sua pintura de forma a marcar sua obra. Os auto-retratos e as representações de cenas do hospital ou de procedimentos médicos foram retratados de forma a fazer o observador partilhar da sua dor.

Frida Kahlo conciliava um trabalho de tom pessoal, mas que não abria mão de influências externas. “Suas obras são muito originais, mas ela não estava alheia ao que se passava no mundo, como o cubismo, em Paris, e, claro, a obra de muralistas mexicanos, como seu próprio marido”.O apelo universal de Frida se deve ao fato de que “suas pinturas trazem influências do renascimento europeu. Além disso, podemos compartilhar de sua dor, que é muito forte”.Frida possui até laços religiosos que a aproximam de seu país.”Sua obra traz muitas semelhanças com a arte da Polônia e dos países bálticos, devido a uma influência comum do imaginário católico. México, Espanha e Polônia possuem uma simbologia religosa muito rica, e Frida utiliza esses símbolos de maneira fantástica”.

Árvore da Esperança

Frida explicita, apesar da agonia das dores, sua fé na cura, ainda que remota. Por anos, espera com angústia, mas espera. Essa esperança traduz-se num verso de uma canção preferida que se tornou o seu lema: “Árvore da esperança, mantém-te firme!”. Esse verso, aliás, foi o título de uma tela de 1946, na qual há duas Fridas. Uma delas, sob o sol escaldante, sobre uma maca num deserto seco e com o solo cheio de rachaduras, está deitada de lado, com os cabelos solta, nua e com um lençol branco que cobre parte de seu corpo, no qual se vêem dois cortes sangrentos de uma operação na coluna. A outra está no mesmo cenário, só que sob a luz lunar. Sentada na beira da mesma maca, ostentando exuberantemente um vestido vermelho, a outra Frida, saudável e bela, segura um desnecessário colete de coluna numa das mãos e na outra uma bandeirola em que se lê os versos da canção-título.
Em Árvore da esperança, mantém-te firme (1946), Frida retrata seu infortúnio físico resultado das várias intervenções (foram mais de 30 operações, sete delas na coluna) que sofrera ao longo da vida na tentativa de melhorar suas condições de saúde. A noite pintada numa metade da tela alude ao sofrimento, e o dia ensolarado, na outra metade, tem a ver com sua expectativa de recuperação.
”Estou quase terminando o quadro que nada mais é que o resultado da tal operação. Estou sentada à beira de um precipício – com o colete em uma das mãos. Atrás estou deitada numa maca de hospital – com o rosto voltado para a paisagem – um tanto das costas está descoberto, onde se vê a cicatriz das facadas que me deram os cirurgiões filhos de sua… recém-casada mamãe.” Sobre a obra ”A Árvore da Esperança”
A Frida deitada na maca, olhando pro sol, que na mitologia asteca se alimenta de sangue humano para sacrifícios. Para ela mais uma cirurgia seria um sacrifício, depois de tantas mal sucedidas, pois a recuperação era dolorosa e demorada, se opõe à a Frida sentada, otimista e forte do lado da lua, que na mitologia asteca representa a feminilidade (uma constante nas obras e na vida, pois tinha defeitos físicos – um pé atrofiado e uma perna mais fina que outra) em suas mãos, o colete do qual ela tinha esperança de se livrar depois da cirurgia. A frase retirada da música, e pintado na bandeira, parece estar dando ânimo a si mesma.

O título e a inspiração do quadro fazem as vezes de um conjuro que cura mediante a magia das palavras. Ao proceder de uma canção popular, o título nos remete a árvore da vida dos astecas, árvore que alude a união do corpo com o espiritual, à esperança, a essa particularidade humana que ajuda os homens a enfrentar a incerteza da enfermidade e da morte.

O porquê da frase no quadro

Os índios mexicanos atribuem às palavras poder de mudar os acontecimentos do mundo e afastar o mal, com esta visão acreditam que as doenças podem ter causar naturais ou sobrenaturais, causadas por “mal-olhado”, agouro. Antigamente os astecas descobriam se uma pessoa estava com “mal-olhado” olhando seu reflexo nas águas, se este estivesse com sombras era sinal de “mal-olhado”. Como faziam seus antepassados Frida, narradora de si mesma, se lê no espelho de texto e se reflete. Indicando assim como se comporta um mexicano tradicional diante da enfermidade: dois discursos a fazem refletir, o da ciência médica e o da magia da medicina popular e mística de seu povo. Ambos modelos correspondem a diferentes sistemas culturais e estão imersos dentro de uma realidade simbólica, dentro dos quais se cura doença e enfermidade. Se por um lado a ciência se apóia na convicção de que a tenacidade, experiência e a razão são válidas, a magia, por outro lado, encontra fundamento na crença de que a esperança não pode faltar nem irá decepcionar. Para curar os astecas recorriam a uma mescla de magia, religião e ciência (baseado no uso de plantas medicinais).
Neste auto-retrato Frida questiona o discurso médico que se opõe a medicina não tradicional misturando ambos discursos.

Surrealismo

O surrealismo foi por excelência a corrente artística moderna da representação do irracional e do subconsciente. Suas origens devem ser buscadas no dadaísmo e na pintura metafísica de Giorgio De Chirico.
Este movimento artístico surge todas às vezes que a imaginação se manifesta livremente, sem o freio do espírito crítico, o que vale é o impulso psíquico. Os surrealistas deixam o mundo real para penetrarem no irreal, pois a emoção mais profunda do ser tem todas as possibilidades de se expressar apenas com a aproximação do fantástico, no ponto onde a razão humana perde o controle.
O Surrealismo foi um movimento artístico e literário surgido primariamente na França dos anos 20, inserido no contexto das vanguardas que viriam a definir o modernismo, reunindo artistas anteriormente ligados ao Dadaísmo e posteriormente expandido para outros países. Fortemente influenciado pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud (1856-1939), o surrealismo enfatiza o papel do inconsciente na atividade criativa.
Segundo os surrealistas, a arte deve se libertar das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência cotidiana, expressando o inconsciente e os sonhos.
A livre associação e a análise dos sonhos, ambos métodos da psicanálise freudiana, transformaram-se nos procedimentos básicos do surrealismo, embora aplicados a seu modo. Por meio do automatismo, ou seja, qualquer forma de expressão em que a mente não exercesse nenhum tipo de controle, os surrealistas tentavam plasmar, seja por meio de formas abstratas ou figurativas simbólicas, as imagens da realidade mais profunda do ser humano: o subconsciente.
O Surrealismo apresenta relações com o Futurismo e o Dadaísmo. No entanto, se os dadaístas propunham apenas a destruição, os surrealistas pregavam a destruição da sociedade em que viviam e a criação de uma nova, a ser organizada em outras bases. Os surrealistas pretendiam, dessa forma, atingir uma outra realidade, situada no plano do subconsciente e do inconsciente. A fantasia, os estados de tristeza e melancolia exerceram grande atração sobre os surrealistas, e nesse aspecto eles se aproximam dos românticos, embora sejam muito mais radicais.


Fonte: http://sobredesign.wordpress.com/2007/06/26/frida-kahlo-analise-de-imagem/